Observe esse diálogo:
Marta: Ah, esses dias estou tão cansada. Minha filha não me obedece, estou tão triste.
Pietra: Eu não sou mãe, mas posso te entender.
Marta: O dia que você for mãe vai entender.
Pietra: Não, Marta. Eu não sou mãe, mas posso te entender totalmente. Eu acho equivocado você pensar que eu preciso ser mãe para te entender.
Marta: Eu sei que você me entende, Pietra. O que quero dizer é que, me entender de verdade, de verdade, você vai conseguir quando ter um filho.
Pietra: Eu sinto como se meus cachorros fossem meus filhos.
Marta: Bom... Ainda é diferente.
Pietra: Ah, cuidar dos meus sobrinhos me faz sentir como uma mãe. Cuido dele, desde que eles nasceram!
Marta: Isso é bom. Mas, me desculpe. Ainda assim, é um pouco diferente do que é ser mãe!
Neste diálogo, você pode observar que Pietra insiste que sabe bem como ser mãe. Ela resiste à ideia de que não sabe o que é ser mãe, sente-se um pouco ofendida, e, por isso, se defende, e mostra exemplos de que, por cuidar de seus cachorros e sobrinhos, ela tem uma ideia do que é ser mãe. Pois bem, a própria Pietra respondeu o certo: ela apenas tem uma ideia do que é ser mãe. A realidade é que ter "uma ideia" do que é ser mãe é diferente do que é ser mãe. Em várias outras situações acontece o mesmo, as pessoas insistem em pensar que sabem como o seu próximo se sente, mesmo sem ter passado por aquela situação. O fato é que, o ser humano só pode ser entendido completamente por outro ser humano, quando ambos têm experiências semelhantes.
Por acaso, uma criança realmente sabe como é ser um adulto? Na verdade, ela construiu a ideia de que sabe muito bem. O adulto para ela pode ser alguém chato, ranzinza, ou, de outro lado, ela construiu que ser adulto é ser livre, perfeito, super-herói. O fato é que, ela pode ter criado ideias próximas do que é ser um adulto, mas ainda assim, não sabe como é ser um adulto. Ou seja, somente o dia que ela se tornar um adulto, ela perceberá a diferença entre "pensar o que é um adulto" e "ser um adulto".
O que acontece com muitas pessoas é que, elas constroem a ideia do que é "ter depressão", "ter perdido alguém", "ter tido uma infância problemática", por exemplo, com a própria imaginação delas, sem de fato, ter passado por isso. Isso mostra que elas se esforçam para ter uma ideia do que o outro passa, mas de fato, elas não conseguirão completamente entender o que é passar por esta situação. Nós somos limitados, precisamos passar pelo mesma situação para entender o próximo.
Por mais doído que seja, a verdade é que, se você não passou por uma situação parecida com o seu próximo, como a de depressão (o exemplo mais clássico), a sua tendência imediata será de julgá-lo, vê-lo como um ser humano fraco, incapaz e preguiçoso. Obs: em toda regra existem exceções.
É fato que, existem pessoas que nunca tiveram depressão e que, mesmo assim, tem uma ideia bem próxima do que é estar em depressão. Porém, friso novamente, é apenas uma ideia bem próxima.
As pessoas se defendem a todo momento dizendo "eu não preciso ser mãe para te entender" ou "não preciso ter depressão para te entender", mas o fato é que, elas estão negando à realidade, pois pensam, a todo custo, que sabem, quando na verdade, quem sabe é quem vive essas situações.
Por isso que, as pessoas que não passaram por problemas próximos ao seu (acidente, assalto, abusos, doenças na família, entre outros) apenas farão uma ideia do que você passa. Por isso, torna-se mais fácil dividir seus problemas com pessoas que vivem seus problemas ou já vivenciaram, pois essas pessoas não te compreenderão apenas vagamente, elas irão além: compreenderão você por sentirem-se igual.
Dessa forma, observe que existem muitas pessoas insensíveis com as dores dos outros justamente porque elas não conseguem sentir o que você sente. É falta de empatia.
- Quantas vezes você já não viu o descaso de hospitais públicos quando uma mãe chega desesperada com seu filho no braço em grande desespero?
- Ou, você já presenciou o descaso de hospitais com uma grávida prestes a dar à luz na calçada?
- Ou, você mesmo (a) já sofreu grande injustiça quando se encontrou doente, sem dinheiro ou simplesmente triste?
São situações parecidas: as pessoas que nunca sofreram determinado problema, pouco se colocarão no lugar de quem realmente sofre. Por acaso, nós que ainda somos jovens, realmente sabemos o que é ter 90 anos de idade? Não. Nós apenas criamos um conjunto de ideias do que é ter essa idade, mas nunca sentiremos na pele o que é ter pouca força, visão embaçada ou falta de memória. Só teremos certeza disso quando chegar a nossa vez.
Autora: Akemi Zaha
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